Emergência Poética

Já falavam que o pouco aqui dentro era muito E que a solução não era emigrar, Mas a seca de longos anos veio clarear a saída que eu não queria As incertezas de um pão de cada dia, As incertezas de uma felicidade num pedaço de chão, Até parece utopia, Até parece romance de meninice Aí esta minha drama de querer ficar e ter que pensar em sair do meu canto, Aí esta minha vontade de fincar os pés na terra, Que é amedrontada pelas minhas belíssimas más condições de sobreviver Porquê que a vida de um cabo-verdiano é uma afronta? Isso mesmo, Uma afronta de cada dia Em volta de um mar azul, Que produz esperança E que apaixona "kretxeu " de terra longe Fazendo distanciar um crioulo enraizado Aí esta drama, Da seca, Do amor, Do mar, Da saudade que vou ter Pela má conjuntura da vida Aí vida de cabo-verdiano... 

Que todo calor se alastre nos corações frios Que toda maldade seja curada por rosas e chocolates Que a imensidão da depressão seja posta de lado E que o fulano ajude o sicrano Com risos inocentes Marcando novos horizontes Marcando novas amizades E desmontando tamanhos monstros obscuros Que o amor seja a alavanca das cabeças cabisbaixas Aquelas que são mergulhadas de tristeza e de ansiedade Aqueles corações que precisam somente de amor e de conforto Que este confronto seja uma união do amor Uma união de igualdade Entre o preto e o branco Entre o homem e a mulher Entre os artistas e os políticos Que o mundo abrace as tentativas de livrar da vida Transformando escuridão em luz divina Que a vida simplesmente não fosse só vivida Mas sim enlouquecida com esperança e sabedoria Que o mundo se ajude E nós simplesmente amarmos 

Espelho meu espelho meu Que cor devo ter para enaltecer a minha inteligência Que cor devo ter para não morrer de fome e ter alegria no olhar Espelho meu espelho meu Que nacionalidade devo adquirir para fugir das armas e das bombas Que país devo ir para ser feliz e acordar livre do racismo Espelho meu espelho meu Qual é a página da vida que posso amar o outro sem ser discriminado Onde posso amar o preto, o branco ou até o albino Onde e quando posso manifestar os meus gostos Oxalá tenhas as respostas para as minhas perguntas, Oxalá encontras um lugar onde um corpo é só um corpo E os pensamentos do corpo é aquilo que realmente importa Espelho meu espelho meu Reflita por favor, Reflita nas respostas para um mundo desigual Nas respostas para um mundo machista e pobre Espelho meu espelho meu Há alguém que pensa como eu?

Fui mexida, Fui amassada, E nem sei se fui um castigo da Natureza O meu corpo foi tocado e nem sei quem foi Só sei que o meu corpo fez doer o meu coração Só sei que aquelas mãos frias desonraram a minha alma E desobedeceram o meu prazer Não compreendo a maldade do ser Nem tão pouco aquilo se passou naquela rua escura, Naquela rua escura que me deu pesadelos Pesadelo de um vai e vem Pesadelos de um monstro navegando na inocência do meu ser Na inocência de um sofrimento que permanecerá no meu sangue e na minha vida

Sou amante do amor  Sou amante da dor  Não suporto mas aguento  Porque quem ama sempre dá uma segunda chance  Mas já não é uma segunda chance  Mas sim, Uma pena de morte para o meu coração  Uma incrível marca vermelha nos meus sentimentos  Uma grande vontade de ir embora Ir embora e mergulhar numa rica saudade Uma saudade de ser batida  Porque simplesmente é uma batida, um soco  que vira um beijo, um abraço um amaço Que me encanta numa doce e iludida felicidade Como é possível amar e bater terem o mesmo efeito em mim? Como é possível gostar daquilo que me faz sofrer em vez de me mimar??  Porquê amar? Porquê viver numa grande grande paixão de dor?

Porquê choras? Porquê investes tanto no sofrimento? Porquê amas aquele amor ignorante? Porquê vives num paraíso imaginário? Oh minha mulher cabo-verdiana, Que de avental na cintura, Ou de lenço no cabelo preto, Enfrentas a tempestade, Para depois, No vaguear da noite Sofreres na imensidão de lágrimas Minha doce mulher crioula que de punho em punho lutas Onde o teu sorriso serve de escudo neste imenso mar da vida Lembra-te que és a fibra das ilhas, Lembra-te que os teus choros só trazem angústia, Lembra-te que os teus filhos são a tua felicidade, E que a tua felicidade não depende de um amor ignorante Lembra-te simplesmente que és cabo Verdiana

Na passarela da vida, nunca esqueça da humildade, nunca esqueça da entoação que é a humildade, Do lindo brilho florescente da alma demostrando a simplicidade, o agradecimento, o bem haja Na passarela da vida em cada pose mostre luta, mostre vontade de crescer, De amadurece, De poetizar Mostre sobretudo amor pois sem amor somos obscuros, somos horríveis de alma, mesmo que a cara seja linda e o corpo seja perfeito Na passarela da vida ilustra paz ao fotografar, ao cantar, ao dançar Na passarela da vida seja si mesmo brinde-se de confiança e humildade